...me admirou ser tão vermelho!
Essa
lembrança me
é
um
tanto
perturbadora,
pois
foi
minha
primeira
experiência
com
a
morte
ali,
de
fato,
acabada
de
acontecer.
Foi
em
1996,
eu
com
21
anos.
Eu
estava
saindo
do
meu
trabalho
– aquele
meu
primeiro
emprego
– na
cidade
de
Suzano,
município
do
Alto
Tietê,
próximo
à
cidade
de
São
Paulo
por
volta
das
16h.
Eu
dali
iria
até
a
casa
da
Pris,
pois
ainda
estávamos
namorando.
Não
me
lembro
qual
dia
da
semana
era,
mas
como
sempre,
o
ponto
de
ônibus
sentido
Ferraz
de
Vansconcelos
– onde
moro
– ao
lado
da
estação
de
trens
estava
lotado.
E
quando
digo
“lotado”
me
refiro
ao
sentido
mais
pleno
e
absurdo
da
palavra.
Deve
ser
assim
até
hoje.
Bem,
não
tinha
jeito,
eu
tinha
que
me
enfiar
naquela
balburdia
e
esperar
meu
ônibus.
Fiquei
bem
ao
extremo
da
ponta
esquerda
do
ponto
entre
a
calçada
e
o
meio-fio
da
avenida.
Os
carros
passavam
e
quase
batiam
com
o
retrovisor
do
lado
do
passageiro
em
mim.

Estava
lá
eu,
preocupado
porque
o
ônibus
estava
atrasado,
o
ponto
enchendo,
enchendo...
quando
bem
à
minha
esquerda,
se
aproximava
um
senhorzinho,
mas
beeem
senhorzinho
mesmo,
aparentando
bem
uns
75
a
80
anos
com
um
boné
tão
velho
quanto
ele
cobrindo
sua
cabeça
branquinha.
Vestia
um
terno,
se
não
me
falha
a
memória,
cinza
claro,
todo
amarrotado
e
remendado
com
calça
combinando
– até
nos
remendos
– e
um
sapato
que
mais
parecia
que
não
existia,
andando
pelo
meio-fio
da
avenida
dividindo
espaço
com
os
automóveis,
empurrando
pelo
guidom
uma
bicicleta
tipo
barra
forte,
ou
barra
circular
muitíssimo
velha,
que
carregava
no
bagageiro
um
maço
relativamente
grande
de
ervas
consideradas
medicinais,
tipo
carqueja,
erva
cidreira,
galhos
com
folhas
de
pitangueira
e
mais
outras
que
eu
não
soube
na
época
identificar.

Aquilo,
obviamente
chamou
minha
atenção.
Este
senhor
não
era
mendigo,
podia
se
perceber,
pois
apesar
do
andar
arrastado,
do
corpo
arcado
e
do
rosto
magro
e
macilento,
via-se
em
seus
olhos
de
um
azul
acinzentado
muita
lucidez,
dignidade
e
simpatia.
Tanta
simpatia
que
percebeu
que
eu
o
observava
curioso
e
quando
passou
por
min,
acenou
com
a
cabeça
com
quem
diz
“bom
dia”,
e
é
claro,
respondi
ao
aceno
com
um
pouco
de
reverência.
Assim
que
passou
por
mim,
comecei
a
refletir
sobre
como
tanta
coisa
ainda
estava
para
acontecer
em
minha
vida,
e
ao
mesmo
tempo,
pensava
pelo
que
aquele
senhor
já
havia
passado...
será
que
eu
estaria
ainda
lúcido
e
ativo
depois
de
mais
uns
50,
60
anos?
A
Priscila
ainda
estaria
ao
meu
lado?
...filhos,
netos... nossa!...
aquele
senhor
tinha
já
passado
por
tudo
o
que
eu ainda
teria
ainda
de
passar.
É
uma
sensação
estranha
essa
de
poder ter
por
trás
de
si
toda
uma
vida
de
experiências,
ao
mesmo
tempo
pensar
que
se
tudo
der
certo,
você
ainda
viverá
mais
umas
3
ou
4
vezes
o
tempo
que
você
já
viveu.
Essa
reflexão
estava
me
deixando
meio
tonto.
É
quase
como
tentar
entender
o
infinito.
Saí
um
pouco
do
plano
dos
meus
pensamentos
e
voltei
ao
ponto
de
ônibus
cheio. Percebi
que
o
transito
estava
se
congestionando,
mas
não
pude
ver
o
motivo
pois
não
era
possível
ver
nada
à
minha
direita
porque
não
conseguia
me
mexer
pelo
excesso
de
pessoas
sem
contar
o
amontoado
de
carros
na
avenida.
Pensei:
“É
hoje
que
eu
só
chego
amanhã
em
casa”.
Para
minha
surpresa,
5
minutos
depois,
chegou
meu
ônibus
e
para
minha
sorte
ele
parou
com
a
porta
de
entrada
bem
à
minha
frente.
Subi
rapidamente,
passei
a
catraca
e
sentei-me
como
de
costume
no
último
banco
do
lado
direito.
Os
ônibus
e
carros,
andavam
devagar
e
estavam
fazendo
uma
pequena
volta,
se
distanciando
do
meio-fio
da
calçada
há
mais
ou
menos
uns
30
metros
de
onde
eu
estava.
“Vou
conseguir
ver
o
motivo
desse
trânsito
todo!”
pensei
comigo.
E
então
eis
o
motivo.
Era
aquele
senhor,
deitado
no
asfalto
quente,
com
a
cabeça
em
uma
enorme
poça
de
sangue
– que
me
admirou
ser
tão
vermelho
– escorrendo
para
o
meio-fio.
Sua
bicicleta,
estava
também
jogada
ao
chão,
com
o
maço
de
ervas
ainda
fixo
no
bagageiro.
As
pessoas
apenas
olhavam,
sem
sem
aproximar,
ainda
esperando
seus
ônibus.
Acredito
que
esta
foi
uma
das
cenas
mais
chocantes
que
eu
já
presenciei.
Ele
não
parecia
ter
sido
atropelado.
Até
hoje,
não
sei
o
que
houve
de
fato.
Me
é
uma
cena
infelizmente
inesquecível,
que
me
deixou
muito
mexido.
Provavelmente
fui
a
última
pessoa
a
qual
ele cumprimentou.
E
pensar
que
toda
uma
vida,
repleta
de
experiências
e
sabedoria
acumulada,
terminava
daquela
forma,
de
maneira
tão
desrespeitosa,
tão
insignificante,
tão
comum
e
sem
valor
aos
olhos
das
pessoas.
Passei
a
respeitar
mais
a
fragilidade
e
o
valor
da
vida
daquele
dia
em
diante.
Nem
preciso
dizer
que
fui
uma
péssima
companhia
para
a
Pris
naquela
tarde.
Eder Benedetti