quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Eder & Priscila: Relembrando o começo!


 Lembro de uma ocasião, que apesar das parcas condições de vida, foi tudo muito divertido.
Sabe, aqueles desejos, aquelas vontades infantis que você não realizou e elas ficam ali no seu pé, lhe cobrando...como se você fosse devedor de si mesmo? Pois é!
   Foi no ano de 1997 para 1998. Eu e a Priscila já estávamos casados, e olha só a situação:
Havíamos nos casado há poucos meses. Ela tinha quebrado o pé direito de forma tão grave que foi necessário cirurgia com parafusos, chapa de titânio e tudo mais! Mesmo assim, ela ficou grávida da Lais e eu havia perdido meu emprego - meu primeiro emprego – justamente porque eu precisava cuidar dela... difícil não é?

 Priscila sofria – e ainda sofre – com insônia e diante de tudo o que acima citei, é que ela não dormia mesmo, e eu, desempregado, não tinha a obrigação de levantar cedo. Resultado: passávamos as noites acordados conversando, jogando vídeo-game e dormíamos durante o dia.
Em uma dessas madrugadas, a qual ficamos conversando e fazendo planos, de repente lá por volta das 6h. da manhã começamos a ficar com fome. Não tinha nada na geladeira! Eu teria de ir até o supermercado mais próximo para comprar o café da manhã, mas ainda era muito cedo e o mercado só abriria às 8h.
  Para passar o tempo, ficamos falando sobre nossas infâncias, das vontades e fantasias. Certamente por influência da fome, começamos a relembrar de desejos de comer coisas absurdas e em grande quantidade, coisas que só mesmo crianças podem imaginar: beber uma lata inteira de leite condensado, comer uma metade inteira de melancia – bem gelada – com uma colher, comer Romeu e Julieta – queijo com goiabada – até sair pelos olhos, comer um super omelete feito com uma dúzia de ovos, comer uma caixa inteira de maria mole, daquelas que eram vendidas nos bares, etc, etc...
 Um desejo desses que tínhamos em comum, era comer cada um, um pote de 2 litros inteiro de sorvete de milho-verde. Pronto! Não deu outra. Lá fui eu às 7h esperar o supermercado abrir para comprar dois belos potes de sorvete de milho-verde. Infelizmente, o dinheiro não foi suficiente para comprar dois, mas apenas um daria para o gasto.
                         
   Já em casa, sentados na cama e cada um com a maior colher que encontrou, atacamos como feras selvagens e famintas o potão de sorvete. Foi um delírio. Parecíamos dois tubarões brancos no frenesi do ataque á presa.


Terminada a orgia do sorvete, dormimos profundamente até as 15h, totalmente satisfeitos e realizados.... cara, foi muito bom! Quando relembro isso com a Pris, seus olhos chegam a brilhar como outrora.

Dêem uma passadinha no blog do ED&PRIS e curta mais algumas historinhas!
http://edpris.blogspot.com/
Se você quiser ler esta postagem em ESPERANTO acesse o link abaixo:
http://www.ipernity.com/blog/51444


domingo, 8 de janeiro de 2012

Irmão


Irmão.

Uma certa manhã, a caminho de meu trabalho, entrei por um túnel que passa por baixo de uma avenida e que dá acesso à estação de trens, túnel esse que abrigava alguns moradores de rua que resolveram passar a noite lá.
Infelizmente, essa é uma cena corriqueira, pois todos os dias passo pelo mesmo túnel e só vejo o número dessas pessoas aumentar.
Tratando-se de uma cena costumeira, eu não deveria me impressionar, apesar do absurdo, mas neste dia me despertou a atenção para toda aquela situação um verso escrito à giz branco em uma das paredes do túnel logo acima de onde uma dessas pessoas dormiam, este um homem em estado deplorável se comparado aos outros habitantes noturnos do túnel, o qual era quase impossível determinar a idade, totalmente cercado por papel amassado, sacolinhas plásticas de supermercado e algumas pequenas botijas plásticas de cachaça barata a qual, não tenho certeza chamam-se “corotes”.
O tal verso e a cena me impactaram sobremaneira. Eis o tal verso:

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.”

Naquele momento, o verso meio que devolveu a condição humana a aquela pobre criatura, era como que se ele dissese mesmo que dormindo “Eu sou!”.
O impacto em mim foi tão forte que cheguei a decorar o verso e ele e a cena não sairam da minha cabeça por semanas.
Mas fez-se então um mistério: Quem teria escrito aquilo, e justamente naquele local? Poderia ter sido aquele pobre homem, mas o verso estava escrito em um português tão refinado e tão bem disposto artísticamente que duvidei que tivesse sido ele ou outro daqueles moradores do túnel, apesar de saber que muitas pessoas letradas e um dia de alguma posse se perdem na vida em meio ao alcool e às drogas.
Fiz uma breve pesquisa no Google e descobri que esse verso faz parte de um poema de uma das mais, se não for a mais talentosa poetiza brasileira, Cecília Meireles.
O poema original chama-se MOTIVO. Ei-lo:

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Trata-se portanto de um poema que traduz sua posição como poetiza.
Incrivel como aquele fragmento da poezia traduzia tão bela e tragicamente a condição dos moradores de rua.
Acredito que isto demonstra como a arte pode nos trazer de volta à verdadeira realidade.

Eder Benedetti – Domingo, 08 de Janeiro de 2012.